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FRAUDES: UMA CRESCENTE PREOCUPAÇÃO PARA LÍDERES EXECUTIVOS E PARA A SOCIEDADE
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FRAUDES: UMA CRESCENTE PREOCUPAÇÃO PARA LÍDERES EXECUTIVOS E PARA A SOCIEDADE

E A SOLUÇÃO É DE LONGO PRAZO

A descoberta de inconsistências contábeis no balanço das Americanas possui tantas perspectivas negativas óbvias que fica difícil selecionar qual pode ser mais danosa à empresa e stakeholders.

Afinal, uma fraude contábil pode ter consequências financeiras e de imagem significativas para a organização.

Do ponto de vista financeiro, a empresa sofre uma perda direta, bem como custos adicionais associados à investigação e resolução do incidente. Além disso, a reputação da empresa fica prejudicada, levando a uma perda de confiança dos clientes e potencialmente resultando em uma diminuição nos negócios.

Do ponto de vista jurídico, os danos são tão evidentes que não caberia aqui comentar.

Também é evidente que os executivos devem adotar uma abordagem proativa para prevenir e detectar fraudes. Isso pode incluir a implementação de controles internos e sistemas de monitoramento, fornecer treinamento frequentes aos funcionários sobre detecção e prevenção de fraudes e realizar auditorias regulares para identificar possíveis vulnerabilidades. Além disso, é importante ter um plano para responder a um incidente, incluindo uma equipe de indivíduos designados para lidar com a investigação e resolução do incidente.

Mas, você acha mesmo que tudo isso que citei nos parágrafos acima não existia nas Americanas?

UM MUNDO DE APARÊNCIAS

No fundo, o mundo executivo reflete a cultura da aparência em que nos metemos.

Você não precisa mais ser honesto, você precisa ter um selo de honestidade.

Você não precisa mais ser confiável, você precisa ter um selo de confiabilidade.

Você não precisa mais ser ético, você precisa ter um selo de ética.

Toda essa adoração a credenciais, certificados e auditorias servem mais para esconder fraudes do que para revelá-las.

Só neste século, empresas como Enron, Wordcom, Tyco, FTX, todas as empresas dos escândalos do mensalão e do petrolão, farmacêuticas e grandes bancos ao redor do mundo, estiveram envolvidos em crimes, mas eram todas organizações certificadas, auditadas e seguiam regras de compliance e, mais recentemente, das práticas ESG.

No fundo essas regras, procedimentos e recomendações são criadas por organismos governamentais e não-governamentais muito mais com o objetivo de criar uma reserva de mercado para aqueles que tiverem o selo delas, do que para prevenir o que quer que seja.

Afinal, para obter o selo, ou o certificado, você precisa fazer cursos, ser auditado, contratar consultorias e ter uma série de custos difíceis de serem absorvidos por empresas menores. Portanto, é uma maneira de tirá-las a possibilidade de acessar financiamentos e oportunidades de maior vulto. Isto serve para concentrar negócios em certos grupos de empresas.

E nos leva à reflexão: isto é realmente capitalismo ou estamos diante de um sistema econômico fascista, onde amigos do estado possuem privilégios inalcançáveis pela maioria?

ESCONDE-ESCONDE

Esta concentração de negócios faz com que essas empresas sejam grandes patrocinadoras de veículos de comunicação e tenham com isso o poder de transformá-los em uma potente assessoria de comunicação.

O resultado é uma impressionante distorção da linguagem na transmissão do ocorrido.

Vemos expressões como “fatos relevantes”, em vez de crimes.

“Inconsistências contábeis”, em vez de fraudes.

“Impactos do problema no balanço”, em vez de prejuízos.

Tudo feito para minimizar o fato, esconder os verdadeiros responsáveis e não dar foco nos quase 10 anos de fraudes que somente são possíveis por um evidente conluio de executivos, auditores, consultores e conselheiros. Afinal, ou estamos diante de um conluio ou de uma incompetência generalizada numa empresa que faz parte do grupo tão idolatrado no livro “Mão Grande”, digo, “Sonho Grande.”

Ontem mesmo, um desses personagens já tratou de dizer pela imprensa que estava distante do grupo, que deixou na mão dos executivos, enfim, que a culpa não era dele.

De fato, o comportamento de Adão no Gênesis ao culpar Eva por ele ter comido a maçã, nos explica a humanidade de todos os tempos – inclusive no mundo executivo.

Tenho certeza que isso tudo vai virar um “case” e será estudado por grupos de Compliance, escolas de administração, grupos de estudos de ESG e afins e o resultado serão novas regras e recomendações que gerarão mais custos para empresas e concentrarão mais negócios nas mãos dos mesmos.

Esses mesmos grupos controlam escolas e são patrocinadores de deputados e senadores. Você acredita mesmo que eles estão preocupados em ensinar bem seus filhos e a fazer leis para o bem dos brasileiros?

UM TRABALHO PARA 12 HÉRCULES

Mas, o que fazer?

Quando você está à beira de um abismo, evoluir significa dar um passo para trás.

É hora de revisitarmos os valores de nossos avós que nos permitiram ter famílias que eram duras na formação moral de seus filhos.

Essas crianças ingressavam em escolas nas quais tinham de estudar e aprender coisas relevantes, mas também a respeitar os professores e as regras de convívio – claro que eram professores que mereciam ser respeitados.

E, ao chegarem na universidade, tinham de fazer trabalhos por si mesmos, não com ajuda de empresas especializadas em teses de mestrado ou escrever textos com o uso de inteligência artificial.

Nas empresas, encontrariam pessoas maduras que estavam lá há décadas e que tinham um genuíno interesse em sua formação profissional e moral. Tudo isso para produzir produtos e oferecer serviços de qualidade, não para mudar o mundo ou salvar o planeta do que quer que seja.

Em muitos processos de coaching e mentoria ouço executivos que preferem desistir das empresas a ter de denunciar os problemas que vêem. Não porque eles sejam insolúveis, mas porque, ao denunciá-los, são rebatidos com argumentos do tipo: “temos de manter a harmonia”, “Isso vai afetar nosso bônus”, “vamos dar um treinamento para os envolvidos” e assim por diante.

Portanto, é evidente que não será esta a última fraude que veremos causar prejuízos a acionistas, empregados e fornecedores. Mas, apenas mais uma da longa e deprimente lista de empresas envolvidas em crimes que mostra que temos um trabalho muito grande a fazer de reformar nossas idéias a respeito do que é realmente importante para nossos filhos, jovens, empresas e país.

E isso começa com entendermos que há uma linha na formação moral das pessoas que está comprometida e que isso levará décadas para reformarmos. Mas, não há outro caminho.

A menos que achemos bonito homens maduros se comportarem como Adão.

Vamos em frente!

Silvio Celestino

Sócio-diretor da Alliance Coaching

www.silviocelestino.com.br

silvio.celestino@alliancecoaching.com.br

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