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Afinal, é bom ou ruim o trabalho em home office?
Na minha palestra, na Associação Brasileira de Marketing Rural e Agro, no dia 13 de setembro, uma das perguntas foi um pedido de comentário a respeito do trabalho remoto.
Confesso que não estava tão claro para mim o quanto esse tema tem sido uma dor de cabeça para as empresas.
O advento do home office trouxe uma modificação importante para o mundo corporativo, redefinindo a maneira como as pessoas trabalham e as empresas operam.
MUITOS BENEFÍCIOS
Os benefícios são evidentes.
Para muitos, o home office proporciona uma flexibilidade inigualável, eliminando deslocamentos e permitindo uma melhor conciliação entre vida profissional e pessoal.
Uma executiva hoje tem neste recurso a possibilidade de ficar com seu bebê em casa, ao mesmo tempo em que trabalha e tem a tranquilidade e o enorme benefício de acompanhar mais de perto os primeiros anos de seu filho. As empresas devem ser organizadas de maneira a apoiar a família e este recurso é muito salutar neste sentido.
Além disso, reduz custos relacionados à infraestrutura de escritório. O trabalhador pode adaptar seu ambiente de trabalho às suas preferências, o que, em muitos casos, resulta em maior produtividade e satisfação.
Entretanto, o conhecimento somente pode advir do exame de idéias contrárias.
O momento atual, em que muitos acreditam na farsa de que tudo é política, faz com que as pessoas percam os princípios do diálogo, entre os quais a busca pela verdade por meio do exame de várias perspectivas com consciência e razão, não com emoção.
Ainda outro dia li um texto em que um suposto professor afirmava que os gerentes queriam os empregados no escritório por um “fetiche da liderança”.
Uma afirmação desta natureza não cria a serenidade necessária para o exame da situação.
MAS...
Afinal, nem tudo são flores. O home office pode apresentar desafios significativos. O isolamento social e a dificuldade de manter limites entre o tempo de trabalho e de lazer são aspectos comuns que podem prejudicar a saúde mental dos indivíduos.
É muito bom trabalhar na residência quando você tem vários ambientes, um escritório isolado da rotina da casa, principalmente no caso de crianças, e você é uma pessoa que consegue focar no trabalho quando está sozinho.
Mas, o aumento significativo de doenças psicológicas, de problemas físicos, como dores nas costas devido ao longo tempo sentado e o exagero de reuniões seguidas, sem intervalo, que faz a ida ao banheiro ser um desafio complexo, mostra que, mesmo para os empregados, o home office não é isento de problemas.
A falta de supervisão direta também pode levar a uma queda na accountability e na eficiência.
A interação pessoal e o ambiente colaborativo dos escritórios tradicionais podem ser perdidos, afetando a criatividade e a inovação.
Na verdade, nós temos a experiência do Yahoo que, no início da década de 2010, mandou grande parte de seus empregados para casa e, quando Marissa Mayer, assumiu a presidência da empresa em 2012, viu que havia enormes fissuras na cultura da organização provocadas pelo trabalho remoto.
Ao chamar seu staff para o escritório, as controvérsias surgiram e o retorno foi bastante contestado.
Richard Branson, fundador e CEO do Grupo Virgin, tuitou à época:
“Estou perplexo pela (decisão da) Yahoo! de Interromper o trabalho remoto. Dê às pessoas liberdade de onde trabalhar e elas se destacarão”.
Mas, mesmo Branson sabe que seus pilotos não podem trabalhar de casa e acho difícil que sua cozinheira faça o mesmo.
Portanto, não existe uma perspectiva que possa abarcar todas as situações que ocorrem até mesmo dentro de uma única empresa.
Os trabalhadores do chão de fábrica nunca tiveram essa oportunidade de escolha.
Já os contadores e advogados desta mesma fábrica poderiam, sem perda da qualidade técnica de seus trabalhos, fazer o serviço de casa.
Mas, como ficaria a cultura da empresa? Onde está a camaradagem? O senso de time? O senso de dono?
Em um inverno rigoroso você se sente bem estando em casa, enquanto seu colega de fábrica passa frio para trabalhar?
Todas essas questões afetam dramaticamente a cultura da empresa e é evidente que a afirmação de Richard Branson fica em xeque quando observamos, por exemplo, na cidade de São Paulo que, curiosamente, os trabalhadores em home office parece que descobriram que são mais eficientes em casa às segundas e às sextas.
Mas, são mais eficientes para si ou para a empresa?
IMPACTO EMPRESARIAL
Quando analisamos o impacto empresarial, vemos que o home office pode ser benéfico ao reduzir despesas operacionais relacionadas a espaços físicos e infraestrutura.
Além disso, possibilita a contratação de talentos globalmente, sem restrições geográficas.
No entanto, o monitoramento da produtividade e a manutenção de uma cultura organizacional forte tornam-se desafios. É necessário que as organizações invistam em tecnologia e estratégias de gestão para garantir o engajamento e a integração dos colaboradores.
Apesar das afirmações de aumento de produtividade, é raro um trabalhador remoto ligar para o seu chefe e dizer que concluiu sua tarefa antes do prazo e que gostaria de saber no que mais poderia ajudá-lo hoje.
A afirmação de Jamie Dimon, presidente do JP Morgan, de que entende que muitos preferem trabalhar em casa e que podem escolher outro lugar para trabalhar, que não o banco, embora dura, reflete a realidade de que a empresa também tem o direito de estabelecer sua preferência.
Principalmente quando falamos de empresas familiares, é o dono que manda e, por mais democrático que seja, sua decisão final é que deve ser respeitada.
E isto não é uma decisão arbitrária em nenhum negócio. Mas, reflete a necessidade de lidar com questões e imprevistos que são naturais no dia-a-dia empresarial.
Certa vez, o C-level de uma agência de comunicação me disse que um problema que ele resolveria em 5 minutos se todos estivessem presentes, demorava 30 minutos só para colocar todos online no trabalho remoto.
Em outra ocasião, o presidente de uma empresa reuniu seus colaboradores remotamente para explicar que precisava que eles voltassem a trabalhar ao menos 3 dias por semana no escritório. Ao abrir para perguntas, anônimas inclusive, foi questionado se daria algum auxílio adicional para quem tinha cachorro para poder pagar um cuidador. E respondeu a muitas outras, todas de cunho pessoal.
Ninguém fez perguntas sobre o negócio, o futuro da empresa, ou como estavam as operações em relação ao planejado. Será que o trabalho remoto não tem a ver com esse desinteresse pelo negócio e o foco excessivo em necessidades pessoais?
UMA QUESTÃO, VÁRIAS RESPOSTAS
Portanto, antes de imaginar que existe uma resposta única e que valha para todas as empresas e departamentos é fundamental colocar-se primeiro nos sapatos do trabalhador, dos gestores e dos acionistas – para não dizer dos fornecedores e clientes, já que, como cliente de empresas que trabalham remotamente observo que a qualidade do atendimento melhorou para algumas e piorou drasticamente para outras.
A articulação dessas perspectivas e as tensões entre elas é que dará a resposta mais adequada a cada situação.
Em última análise, o sucesso do home office depende de uma reflexão mais serena, equilibrada e específica a cada negócio e departamento para adotá-lo.
Não o faça, ou deixe de fazê-lo, por modismo, medo, para agradar a todos ou simplesmente mostrar poder.
Para os indivíduos, é crucial estabelecer rotinas sólidas e separar claramente o trabalho da vida pessoal.
Para as empresas, é essencial analisar a viabilidade de implementar políticas flexíveis e promover a comunicação eficaz para garantir que os benefícios do trabalho remoto, presencial ou híbrido superem suas desvantagens.
A chave, portanto, não é ver este tema como uma batalha, mas é encontrar o caminho que melhor atenda tanto às necessidades dos colaboradores quanto à cultura e aos objetivos das organizações e, especialmente, dos clientes.
Conte comigo para isso e vamos em frente!
Silvio Celestino
Sócio-diretor da Alliance Coaching
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