Algo somente é bom se tem uma intenção boa, uma maneira de fazer boa e um resultado bom.
Por que nos esquecemos desse princípio?
Imagine que você tenha sofrido uma ofensa e, em vez de levá-la a um processo judicial ordenado, passa a ser aquele que abre o processo, faz a investigação, julga, dá a sentença e a executa?
Quão desordenado e perigoso é isso para a ordem jurídica do país e, consequentemente para os negócios?
Se um magistrado que está sob holofotes faz isso normalmente, o que está acontecendo em cortes menores e distantes da luz?
Ao conversar com um amigo advogado, me dizia que já teve de lidar com juízes que deram a sentença antes do prazo legal para ele apresentar a defesa. Além disso, em segunda instância, enquanto expunha sua tese, os magistrados faziam questão de demonstrar que não estavam lhe dando atenção e, com votos sintéticos, confirmavam a decisão de primeira instância.
Neste cenário, não deixa de ser surpreendente ver a quantidade de agentes públicos que não estão dispostos a cumprir a Constituição onde é claro que “ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude da lei”. Portanto, quando alguém acata uma ordem inconstitucional em vez de prender quem a emitiu está contribuindo para o caos.
O QUE ISSO TEM A VER COM O MUNDO EXECUTIVO?
É evidente que a primeira preocupação de quem está no mundo dos negócios é que a exposição desta situação no cenário internacional inibe a atração de investimentos no Brasil.
A situação é mais assustadora para um investidor quando se acrescenta a esse cenário o fato de que centenas de milhares de leis são criadas a cada ano. Como fazer o cálculo do retorno do seu investimento se os tributos mudam ao sabor de câmaras de vereadores, deputados estaduais, federais, senadores, prefeitos, governadores, presidente e juízes?
Creio que não apenas o empreendedor internacional, mas o próprio brasileiro somente investe por desconhecimento deste cenário caótico.
TEM DE TER PROCESSO
Entretanto, um segundo aspecto nesta situação é o quanto nós, executivos, também nos esquecemos de estabelecer e, principalmente, cumprir os processos internos da empresa.
Quando não nos atentamos que, para as operações funcionarem de maneira ordenada precisamos de um processo inteligente, compreensível e executável; cada um fará a tarefa do seu jeito, as pessoas ficarão desorientadas e não se criará registro de conhecimento relevante para o aprimoramento das operações.
Em um momento em que se fala tanto sobre inteligência artificial, aquele que tiver a base de informações melhor trabalhada, chegará a conclusões mais efetivas para o negócio, quer seja por entender e prever o comportamento do cliente, quer seja por identificar e reduzir custos gerados por fraudes, retrabalhos ou falhas operacionais.
OBEDIÊNCIA
Entretanto, não adianta ter um processo estabelecido se os níveis de cima são os primeiros a não cumprirem. Ou seja, quanto menos os diretores atentam para o compliance, menos eles se integram à cultura da organização.
Lembro-me em um evento recente, onde havia uma celebridade que subiria ao palco, a segurança estava sendo muito rígida. Não havia tantas pessoas e o processo era simplesmente os participantes ingressarem na sala com o crachá à mostra.
De repente, um executivo de terno e gravata, tentou ingressar na sala e foi barrado pelo segurança que pediu para ele mostrar o crachá. O senhor respondeu que ele era o dono do evento e que não poderia ser barrado. Apesar do esforço do segurança em fazê-lo, o senhor entrou bufando e ignorou o segurança.
Então, se o próprio dono do evento não segue o processo, o seu cumprimento torna-se subjetivo, o que gera descontrole e desordem.
Portanto, estabelecer o processo é relevante, mas é necessário fomentar a moralidade para cumpri-lo.
E este é um tema esquecido na civilização moderna.
Quanto conhecimento sobre melhores práticas, ambiente seguro, limpeza, higiene e organização é ignorado pelas pessoas simplesmente porque querem achar um jeito mais rápido de se livrar do trabalho?
Sei que obediência está meio fora de moda – apesar de vermos agentes públicos obedecerem a ordens inconstitucionais – mas, obedecer a procedimentos ajudaria muito atingirmos os resultados desejados.
Portanto, os executivos têm um papel cultural importante nas empresas de, com humildade e responsabilidade, seguirem os procedimentos, respeitar o compliance e paulatinamente enriquecê-los com sugestões de como torná-los mais efetivos.
Quando a empresa é pequena há muito espaço para cada um fazer do seu jeito. Mas, quando cresce, são os processos ordenados que a permitem gerar resultados duradouros. A inteligência do executivo está em criá-los de maneira a serem obedecidos rotineiramente pelas pessoas e que eles as façam produzir mais e com menor gasto de energia.
Afinal, se é desfavorável obedecer a certos processos, é interessantíssimo ver como seu cumprimento nos permite produzir mais e jogar o jogo empresarial em alto nível. Assim como ocorre com nossos competidores em países como os Estados Unidos, europeus e asiáticos.
Certa vez vi um comentarista elogiar a beleza do futebol porque no campo não existem marcas que determinam onde cada jogador deve ficar para jogar. Mas, é a organização estabelecida pelo técnico articulada com a habilidade e criatividade de cada jogador dentro das quatro linhas que fazem o jogo ser tão interessante.
Na empresa, ocorre o mesmo, saibamos definir bem os processos e convidar pessoas com a moralidade para segui-los, para construir resultados constantes, consistentes e duradouros para os clientes, os acionistas e, é claro. para nós mesmos.
Conte comigo para isso e vamos em frente!
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Silvio Celestino
Sócio-diretor da Alliance Coaching
Autor do livro: O LÍDER TRANSFORMADOR, como transformar pessoas em líderes
silvio.celestino@alliancecoaching.com.br
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